12 março 2013

Foi como se estivesse a cair. A cair. Aquela sensação de que o chão debaixo de nós nos é tirado e simplesmente voamos no ar. Desta vez, ela não se levantou da cama assustada, não abriu os olhos em puro desespero. Em vez disso, apenas os fechou com mais força e deixou-se estar deitada a ouvir o seu coração a martelar tumtumtumtumtum-tumtumtum-tumtum. Abriu os olhos e lá estavam eles. Aqueles olhos negros, sempre sorridentes, sempre vivos. Ele viu o seu rosto assustado e com a mão direita pegou numa mescla do seu cabelo castanho dourado e prendeu-o atrás da orelha. E depois riu. Largou no ar aquela gargalhada sonora, alegre, sedutora, quente. Quente e reconfortante como chá numa tarde de inverno passada à lareira.
Mas a gargalhada já não a encantava. E em vez de sorrir apaixonada, como tantas outras vezes fizera, apenas lhe virou as costas e, quando ele já não a podia ver, deixou escorrer uma lágrima pela sua face morena molhando o seu lindo cabelo castanho ondulado.
Essa noite não a passou nos braços dele, a ouvir a sua voz fantasiosa, o seu riso mágico, a segurar nos seus caracóis negros. 
Não eram perfeitos, longe disso. Eram defeituosos, como um brinquedo que uma criança abandonou juntamente com a sua infância. Eram diferentes um do outro, pouco os ligava e, no entanto, era difícil encontrar algo que os separava. Eram o que eram e estavam confortáveis assim.
Mas o fantasma daquela relação ia crescendo, ela não era o que ele julgava ser e ele tinha passado por muito que ela nem era capaz de imaginar. Isso deixava-a de rastos, como se estivesse a cair. A cair, uma e outra vez, constantemente a cair. Os pesadelos do que eram atormentavam-na, nada a fazia sorrir. Ele já não a fazia sorrir, mas ele era o seu amor, por ele ela faria tudo. Por eles ela lutaria até ao fim dos seus dias. 
Não foi uma vida feliz, perfeita, mas foi a vida que eles escolheram ter um com o outro. Vida onde a paixão deu lugar a um carinho profundo um pelo outro, onde a agitação do "novo e inesperado" deu lugar à conformidade. Onde os fantasmas dela viviam num canto do quarto e os dele no outro, sem nunca se terem encontrado. Sem nunca terem sido mencionados, mas não, não foi uma vida de mentiras. Foi antes, diga-se, uma vida onde ambos escolheram ser felizes sem serem atormentados pelos fantasmas, pelo menos não à luz do dia. Foi uma vida.

5 comentários:

  1. adorei os textos que li por aqui, escreves com imenso talento :) vou passar a passar por cá mais vezes *

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  2. olá Linda, estás melhor hoje? :)
    se fizeres mesmo questão de mudar o blogue, posso ajudar-te. podes torná lo mais simples, mas à mesma com detalhes especiais. mas fica sabendo que o blogue assim não está mau. talvez só com algumas modificações fique melhor. gosto das cores e do tipo de letra. é o MELHOR!
    não sabia que achavas isso tudo do meu blogue, mas fiquei radiante com os teus elogios, muito muito obrigada :D

    se precisares de ajuda ou falar melhor sobre o tal assunto diz-me alguma coisa. só tens de ser sincera e tu mesma. deves ser uma óptima pessoa e não vale a pena esconder essas coisas com o tempo tudo se descobre e tu és superior a isso. tu consegues!

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  3. foste tu que escreveste este texto sobre algum motivo em especial ou apenas te saiu? está muito bonito!

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  4. então, a sério ficas à vontade, deixo te o meu email e sempre que quiseres, para qualquer coisa, aqui estou: vlbc04@gmail.com

    obrigada, também és querida. a foto de perfil é tua? pareces mesmo fofa lá, se fores tu claro!
    é um texto bonito. tens muito jeito para as palavras e para as emoções. gostei muito.

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  5. r: Ainda bem que achas isso, porque eu não vi mal nenhum no que a mãe dela fez, e estava a ver se era eu a única a achar isso normal. Quanto a ti, de certeza que ele estará do teu lado. Se não estiver, então é porque não te merece...

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