18 agosto 2010

Caminhos


É de manhã. Entro no carro e decido ligar a rádio. Não sei o que aconteceu ontem à noite... Só me lembro de abandonar as minhas amigas num clube barulhento e cheio de fumo. Hoje nem consigo ouvir o género de músicas que ontem estaria disposta a dançar até às sete da manhã. Em vez disso procuro uma música calma que me consiga relaxar. Espero não adormecer enquanto conduzo, mas é impossível isso acontecer porque estou demasiado desperta a pensar em tudo o que tem acontecido nesta última semana.
Bloqueio. A melodia que se ouve na rádio, e que ainda só vai nos primeiros acordes, é demasiado triste, demasiado real, mas sem saber porquê não consigo mudar de estação. Algo me faz parar e fico a escutar atentamente tudo, desde a melodia de fundo, aos acordes principais e depois a letra cantada. Tudo nela me faz lembrar de um passado não muito distante, mas mesmo assim um passado que já não está bem presente na minha memória. Risos, abraços, beijos, músicas, danças, festas, jantares, lugares, segredos, recordações... Separação. Dor. Lágrimas.
Desligo a rádio, paro o carro na berma da estrada e sem me conseguir controlar deixo as lágrimas escorrerem pela minha cara. Deixo-as escorrer sem rumo. Pelas bochechas, boca, pescoço...
Mas subitamente, uma força que não sou capaz de controlar leva-me a ligar de novo o carro e a seguir caminho, apenas continuar. Reparo que não sei por onde estou a ir, não sei que caminhos tomar. Apenas deixo essa força levar-me. Sem rumo. E assim torno-me lágrima, mas não de dor. Assim, torno-me lágrima de alegria, porque afinal ainda estou neste mundo e ainda sigo a minha vida, mesmo sem saber por onde ir. Viro à direita. E naquela altura não o soube, mas noutro lugar do mundo tu estavas a virar na minha direcção. Sem rumo a mim, mas na minha direcção. Definitivamente.

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