04 fevereiro 2013

Hoje vou partilhar um pouco da minha história. Há anos que aqui escrevo e apercebi-me que não há nada concreto sobre a minha vida. Nunca escrevi pormenores apenas deixava as coisas à imaginação das pessoas.
Não me lembro bem da minha infância, sei que conheço a minha melhor amiga desde que nascemos e que passei a maior parte da minha infância a brincar com ela no café onde os nossos pais iam e ainda hoje vão. Coimbra não é uma cidade grande e as pessoas do meu bairro viram-me crescer praticamente.
Aos três anos a minha mãe teve de ir trabalhar para Lisboa e eu fui com ela. O meu pai nessa altura trabalhava em Faro e se nos visitou várias vezes não me lembro. Lembro-me de visitas dele, mas sei que a casa alugada era pequena e eu dormia com a minha mãe. Não gostei do colégio onde andei e lembro-me de andar doente e vomitar todos os dias de manhã. Um dia não vomitei em casa e a minha mãe não ralhou comigo, mas mal cheguei ao colégio vomitei e puseram-me de castigo. Também me puseram de castigo por um dia não estar a brincar com ninguém no intervalo, foi tão humilhante...
Aos cinco anos voltei para Coimbra e as memórias começaram a vir. Todas as noites a minha avó ligava-me para me contar uma história de dormir. O meu pai beijava-me a testa e ia ao café. Eu dormia com ele e a minha mãe ficava no meu quarto, de manhã ele saía mais cedo e eu escapulia-me para a minha cama e ficava lá com a minha mãe. No verão no final do meu primeiro ano, os meus pais anunciaram que se iam divorciar. Chorei, mas no fundo sabia que era o melhor e isso não me magoou.
O meu pai já tinha uma nova namorada e por muito que eu perguntasse se eram namorados ele dizia que não, mas eu sabia que sim. Entrei na dança, e isso fazia-me sentir melhor, mais livre, num mundo só meu.
Desde sempre me agarrei mais aos meus amigos que à minha família, eles eram tudo, porque no fundo a minha família estava separada e agora ainda havia a "outra". Tinha constantes pesadelos em casa do meu pai, pavor de ir dormir lá e ele nunca me ajudou muito na transição. Eu sei que ele me amava (e ama), mas ele nunca foi muito de demonstrar ou falar sobre isso, por isso eu desabafava com a minha mãe ou simplesmente guardava. (Até ao nono ano nada aconteceu.)
No verão do nono andei de avião pela primeira vez a Paris, a minha mãe namorava há pouco tempo e tinha sido o único que eu sabia desde o meu pai. Eu já era mais crescida e lidei muito melhor. Ele era mais simpático que a namorada do meu pai, fazia a minha mãe sorrir como eu nunca tinha visto, mas depois do divórcio tínhamos sido só nós as duas e aos poucos eu fui-me fechando no meu quarto. Não saía daqui, jantava aqui, passava as tardes fechada sozinha. O meu pai vinha todos os dias dar-me um beijo e ia embora.
Fui fazer um curso de inglês ao Reino Unido e fiz algumas das minhas melhores amigas lá, apesar de não serem da minha cidade. Em setembro o meu mundo abalou.
Desde sempre, quando o meu pai tinha um assunto sério para falar ligava-me para irmos comer um gelado, naquele dia não foi diferente. Sentámo-nos e ele disse que a P. estava grávida. No fundo eu não queria irmãos, pois a minha mãe sempre tinha querido ter mais filhos e o meu pai não. Apesar de tudo não fiquei triste, é então que ele diz que se tinha casado enquanto eu estava em Inglaterra. Ia morrendo ali. O meu pai casou e não me disse. Casou e eu não estava lá. Casou e ela nem foi capaz de insistir para que me incluíssem no casamento. Passei a odiá-la e ao bebé que crescia dentro dela. Chorei imenso, voltei a ficar em baixo, escrevi aqui posts sobre o meu pai e as saudades que tinha apesar de termos sido próximos. Sempre achei que se ele continuasse cá em casa eu não tentaria tão desesperadamente conseguir palavras de carinho dele. Não porque ele não as sentisse, mas porque não tinha sido educado assim.
No 10º ano dei o meu primeiro beijo e tive o meu primeiro e até agora único namorado. Foi um ano e meio repleto de felicidade e ao mesmo tempo mágoa. Ele foi o único a quem contei algumas histórias do meu pai (talvez um dia seja capaz de contar) e essa foi a única vez que ele me viu chorar. Passei a andar mais feliz, menos deprimida e a dormir melhor.
Mas como tudo, acabou. Chorei dias e dias, mas sobrevivi.
E chegamos ao agora. Entrei numa espiral de coisas opostas a mim. Experimentei álcool e gostei, talvez demasiado. Fumei, muito pouco, mas fumei. Meti-me com rapazes, meteram-se comigo. Falava disto quase com orgulho e agora só sinto nojo e vergonha. Apesar de não ter feito nada de mais com ninguém, felizmente não cheguei a isso, foi suficiente para as minhas amigas deixarem de me reconhecer e se irem afastando. No meio desta aventura toda voltei a ficar mais em baixo que nunca e passei a ir ao psiquiatra. Não lhe contei nada sobre o meu pai, não sou capaz. Amo-o demasiado e ele parece distante. Amo a minha irmã e dou-me melhor com a P. mas há vezes em que ela é má, trata-me mal e só quero sair daquela casa a meio. O meu pai não percebeu a minha necessidade de ir ao médico e acha uma parvoíce, porque não sabe o que eu sinto. Entrei no ballet para espairecer de tudo. Discuti mais com o meu pai e ficámos sem falar. Ontem estive com ele, foi estranho, mas foi bom. Foi quem mais me magoou, mas amo-o demasiado.
Só tenho saudades de como tudo era antes. De como eu era e aos poucos volto a ser.
Ando a falar com um rapaz, gosto imenso da pessoa que ele é, mas depois de tudo só quero calma na minha vida e parecendo que não ele até me ajuda. Desabafo com ele e ele comigo, sabe bem, visto que mais ninguém fala comigo. Curiosamente tem o mesmo nome que eu e o meu pai "Miguel".
Acho que vai tudo ficar bem, isto soube-me bem. Obrigada.

3 comentários:

  1. Princesse :) gostei de te conhecer melhor. Um grande post cheio de emoções profundas. Sinto que te fez bem em desabafar, pareces mais alegre e descontraída. Quanto aos teus amigos, espero que tudo se resolva pois sinto que eles são muito importantes para ti :)
    E sim, pequenina, tens que te agarrar ao pensamento de que tudo vai ficar bem. Porque vai e ele vai-te ajudar a erguer todos os dias com a força e vontade de enfrentar mais um dia e corrigires os teus erros :D
    Bisous :3
    P.s: também ando no Ballet e também me faz esquecer todos os meus problemas:)
    P.s2: o meu namorado chama-se Miguel :P

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  2. Ohhhh eu também não, ma belle :3 Mas tems que vir cá mais vezes escrever pois gosto imenso, oui? :)

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  3. Queres que eu divulgue o teu blog no meu para mais pessoas ficarem a conhecê-lo? :)

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