Havia um homem que tinha medo. Tinha tanto medo que até temia a felicidade, porque sabia que ela teria de chegar a um fim. Partiu numa viagem, atravessando os mares, pelo mundo fora, com esperança de perder o seu medo. Carregava-o às costas, como uma trouxa. Em todos os lugares que visitava abria a trouxa e mostrava o medo às pessoas que encontrava. A princípio tentou vendê-lo. Quem quer comprar o meu medo? Peço apenas cinco moedas de prata. Mas ninguém queria fazer uma compra assim, mesmo se fosse para oferecer a um inimigo. Por isso, o homem baixou o preço para três moedas de prata, depois para duas e depois para uma. Mas a trouxa dos seus medos continuava a não interessar a ninguém. Depois, tentou dá-la, mas uma vez mais não teve sucesso. Um dia, perto do fim da viagem, pensou que devia deixá-la para trás, escondida em algum sítio. E assim chegou a uma gruta situada no topo das montanhas. E no meio da gruta estava uma mulher. Ele abriu a trouxa e mostrou o conteúdo, e a mulher tomou o medo nas mãos e olhou para ele. "Chamas medo a isto?" perguntou ela. "Isto não é nada." E subitamente o medo desapareceu, atirado aos ventos.
Ela começou a encher a trouxa com rocha. Era a rocha mais bela que ele alguma vez vira. Mas era também a mais pesada. Por isso, quando ele pegou na trouxa para partir, descobriu que era demasiado pesada para transportar. Estava aprisionado.
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