E como numa tela de cinema, ela pintou o seu amor.
Fez dele o seu conto de fadas. Imaginou a rua onde se cruzariam, a roupa que estariam vestindo, a flor que cairia aos seus pés enquanto ele lhe sorria calorosamente, e chegou mesmo a imaginar a senhora que distraidamente iria passar por eles sem reparar. Não que tivesse interesse, mas era um filme e tudo tinha que estar prefeito para quando fosse verdade.
Imaginou-o com todas a suas forças, adoeceu pela sua tela de cinema, morreu um pouco pelo seu amor.
Apesar de tudo conseguiu concluí-lo, mas faltava o apaixonado... Ela esperou na rua, e como num verdadeiro filme as suas posições de espera seguiam-se umas às outras, sentada na escada de um prédio cinzento e aborrecido, apoiou-se na árvore que iria deixar cair a sua flor no momento certo, sentou-se num banco verde de jardim. Mas nunca chegou o seu amor. Saiu do estúdio e correu em direcção à tal rua com que sonhara tantas vezes.
E então para sua surpresa alguém se encontrava sentado num banco verde de jardim, alguém com uma flor na mão, alguém que apesar de devastado pela espera continuava a albergar um sorriso na cara. Alguém que de minuto a minuto olhava para todas as direcções da rua à espera de alguém. Seria ela esse alguém? Ou outra?
De repente apercebeu-se que afinal o filme que sempre quisera fazer, não passava disso de um filme. A tela de cinema era apenas uma tela.
E, na verdade, o que o destino lhe reservava era aquele rapaz, naquela rua, com aquela flor.
Sem se conseguir conter correu como se não houvesse amanhã, abraçou-o e segredou-lhe ao ouvido: "Eu cheguei! Pensei que tu não vinhas..."
Ele sorriu-lhe, deu-lhe a flor e foi-se embora. Porque todos os dias alguém ama, e alguém vira as costas a esse amor, e porque de vez em quando alguém corresponde, mesmo que esse alguém esteja no outro lado do mundo, num outro banco de jardim, segurando outra flor. Porque de facto, estava. Mas isso ela não sabia.
Ainda.
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